Intolerância Coletiva (por Nando Reis)

Hoje me deparei com um texto que não podia deixar de postar aqui no blog, é de autoria de um torcedor que representa e muito bem a grande massa tricolor. Leiam e no final deixo minha opinião.

Não é de hoje que vêm essas manifestações preconceituosas e intolerantes por parte da torcida do São Paulo contra Richarlyson. O motivo? A suposta orientação sexual do jogador que, segundo seus detratores, não condiz com o padrão de virilidade necessário à arquitetura idealizada por aqueles que desenham o protótipo do jogador.

Seja nas arquibancadas, onde as torcidas uniformizadas omitem o nome do jogador na saudação tradicional que fazem aos atletas que entram em campo, seja nas numeradas, onde a cada eventual erro do bom jogador as ofensas vêm sempre carregadas de veneno homofóbico. Na semana passada o chefe de uma dessas torcidas uniformizadas declarou que algumas atitudes do jogador fora de campo não “pegam bem” para os são-paulinos. Como todos sabem, os torcedores rivais se referem aos tricolores como “bambis”, caracterização agressiva que pretende ridicularizar a torcida com essa associação considerada desprestigiosa dentro do restrito universo mental dos trogloditas. Para esses, “futebol é coisa de macho”.

Como são-paulino, digo apenas que me sinto completamente desincompatibilizado com a rejeição que a torcida tem ao jogador. Não que haja algum tipo de decepção, porque há muito eu já desisti de esperar qualquer coisa dos homens, principalmente quando se reúnem e se manifestam coletivamente. Se a unanimidade é burra, a coletividade é estúpida. Em geral, nos grupos sempre acaba prevalecendo a ideia mais rasa, a superficialidade das opiniões sem autenticidade, dos clichês banais, da incapacidade de um pensamento próprio, da falta de ousadia e da falta de coragem de discordar. Chega a ser engraçado pensar que um bando de seres humanos, covardemente protegidos pelo anonimato da multidão, se deem ao direito de se erguer com bravatas e insultos contra um indivíduo que tem a coragem e a força de não se submeter às convenções. Desses sujeitos diferentes eu gosto, os respeito e admiro.

Na verdade, me sinto desconectado desse tipo de pensamento, desse tipo de atitude, dessa ideia obscurantista que há – e muito – nesse ambiente careta do futebol. Vou ao estádio para me divertir e me emocionar com o meu time, nada mais. Com a torcida, pouco me identifico. Acho que as torcidas são todas iguais, elas agem da mesma maneira tendenciosa e irracional. Os gritos são quase sempre de afrontamento e para hostilizar. Todas as torcidas crucificam os seus “Richarlysons”: ou por serem pretos demais, ou homens de menos, baixos ou gordos, sempre haverá um “defeito” que os acusadores encontram para não olharem para os seus próprios. O incômodo que causa a figura de Richarlyson é emblemático de um dos grandes medos do homem – não ser tão potente quanto desejaria. Na face do camisa 20 do São Paulo, imagino que cada um daqueles que o ofende veja o seu próprio rosto, numa dolorosa e indesejável projeção: os calvos veem ali a juventude perdida com a ausência dos fios de cabelos, os maridos infiéis veem ali sua desonestidade vergonhosa e repetida , as mulheres infelizes com seus corpos veem ali a incerteza de não se saberem admiradas, os insatisfeitos com seus empregos veem ali o temor de não serem tão capazes quanto supunham.

A cada ofensa que é disparada ao jogador são-paulino pela sua própria torcida, fica evidente a dificuldade que existe em aceitarmos aqueles que são diferentes: os extraordinários, os rebeldes, os inconformados, os insubordinados, os que desafiam o senso comum. A mim pouco interessa se Richarlyson prefere peixe ou porco: além do seu competente futebol, sua inabalável conduta me cativa como um admirador ainda maior.

Nando Reis

Fonte: 20/08/2009 - Coluna Boleiros do Caderno de Esportes do Estado de São Paulo.

Acho que o texto é completo e genial, pois com toda certeza reflete o pensamento da esmagadora maioria da nação tricolor. Aliás, esse tipo de preconceito apenas alimenta as torcidas adversárias que sem argumentos esportivos para atacar o clube mais vitorioso do país, usam de argumentos até pouco inteligentes para tentar denegrir a imagem de torcedores e atletas do maior clube das Américas. Pelo que me consta Richarlyson nunca foi filmado em companhia de pessoas do mesmo sexo em atos pra lá de libidinosos, nunca ouvi falar desse atleta em escândalos envolvendo álcool, drogas, ou até mesmo de noitadas em bordéis do interior paulista. E apenas para terminar, esse jogador é apenas tricampeão brasileiro só isso, poucos podem se orgulhar de um currículo desses. Dentro de campo é um jogador muito respeitado, como já foi dito várias vezes pelo capitão Rogério Ceni, é um jogador que não se esconde na partida e sempre honrou a manto sagrado tricolor. Dentro do campo é o que me interessa, e deveria ser assim com todos os torcedores, discuto sua condição técnica e atuação dentro do gramado e nada mais, pois como torcedor é apenas isso que me interessa e apenas isso que me diz respeito.

2 comentários

Unknown disse...

Lembro me de ter visto uma reportagem sobre preconceito, não me lembro onde, mas a essencia da matéria era o seguinte;
-Logo quando o futebol começou a se difundir no Brasil, somente jogadores brancos podiam jogar, me lembro como exemplo o Coritiba, que pegou o apelido de COXA BRANCA, devido á ter somente jogadores brancos, como o Vasco e Botafogo também. Esse preconceito demorou para ser "maqueado", mas vimos que os maiores atletas , não só do futebol, mas atletismo, onde a resistencia é um ponto fundamental, são negros. Sim, disse "maqueado", pois na Europa, ainda perceguem jogadores negros, como o Caso de Adriano(jogou na Inter milão), e Samuel Eto, (jogou no Barça), e são jogadores espetaculares. Esse preconceito com o Richarlisson( que é negro), é uma bobagem sem tamamnho, aliás, chamar a torcida do São Paulo de "Bambis", é se olhar no espelho, pois quem começou a chamar a torcida mais vencedora do futebol foi Vampeta(ex Corinthians), que na época, posou nú para uma revista homossexual.A torcida que mais acentua contra a torcida do Sp,chamando á de "Bambis" é a do Curinthinha, que não sabe o que é ganhar uma libertadores, e nem ao menos chegar á final de uma, esquecendo que seu grande ídolo, Ronaldo, foi pego em um motel em SP, com 3..sim eu disse 3 travestis, praticando atrocidades como as "meninas". Como podemos ver, o apelido de "Bambis", deveria ser para a outra torcida. E vamos combinar, timinho da marginal, ganhe títulos internacionais, monte times grandiosos, ai agente volta a conversar. E tenho dito.

Andre Renato disse...

O preconceito nada mais é que a voz dos incompetentes!

Lembor que o maior exemplo de tolerância no futebol foi dado pela torcida do Corinthians que mesmo após ter sua grande fonte de renda e de esperança, envolvido em um caso homossexual, não perseguiu ou humilhou Ronaldo, respeitou sua opção, até dizendo que ele é a cara clube, e segue idolatrando o atleta,não se importando se ele gosta de pêra ou banana, e bola pra frente.

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